sexta-feira, 14 de julho de 2023

 

Por bem amar

 

O amor encontrou minha casa arrombada e destruída.

Passara por aqui a paixão. Chegara repentinamente, iluminando com tanta intensidade o espaço, que foi cegando os olhos de tudo.

Preencheu cada cantinho irreverentemente, expulsando hesitações, temores, cuidados e ensaios.

Nada me parecia faltar, desde então. E o próprio desejo já era satisfação, sem sequer ter sido expresso.

A beleza que a paixão produzia era tão impregnante, que eu podia admirá-la, profundamente dentro e infinitamente fora, a um só tempo.

Durou, até. Mas, num súbito, extinguiu-se e, atrás de seu rastro, restou bem pouco.

 

Depois, reuni forças para acender o fogo.

Comecei a catar os cacos da louça quebrada, as páginas dos escritos rasgados, evitando olhar meu rosto cansado, no espelho espatifado.

Foi, então, que o amor entrou. Não por convite. Foi o abandono que o chamou.

Quase em silêncio, pisando de mansinho, começou a tecer seu manto: um quase imperceptível afago, um olhar mais demorado, uma flor exposta num vidro vazio, uma semente a germinar.

E foi-se deixando ficar, mesmo quando parecia não estar mais aqui.

Integrou-se no leito que acolhe, nas dobras da roupa que aquece, na cadeira que apoia e na água que escorre, lava o corpo e mata a sede.

Hoje, vive no silêncio e no canto de pássaros, mesmo quando estes não vêm.

Colore o final da tarde e faz girar as pás dos moinhos distantes, que o espalham, displicentemente, mundo afora...

Diariamente o amor abre e fecha a porta, azeitando as dobradiças para que não ranjam e eu não me assuste.

Acolhe minhas inquietações, com placidez, porque sabe que vão passar.

Quando veio, o amor aceitou que eu não tivesse nada. Trouxe as mãos vazias e me alimentou de sonhos macios.

                                                                                     M.I.E.S.

                                                                                     01.11.19

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

 

Re-encontrando Gregório

 

Desliguei o celular, ainda sem absorver bem a notícia que Augusto Pessoa me passava, em uma mensagem breve, mas visivelmente emocionada, onde dizia:

- Gregório foi contar histórias no Céu!

Logo a seguir, pareceu-me ouvir a voz de Fernando Lébeis, repetindo o mesmo estribilho com que me recebia toda semana, quando eu chegava na portaria de seu prédio, onde ia aprender com ele  sobre as culturas brasileiras. Só que, agora, era ao Gregório que ele estava chamando, lá, de muito mais alto:

- Sobe, Gregório!

E pude entrevê-los, momentos depois, se abraçando, em um encontro muito amoroso e sentando-se, lado a lado, para ouvir   Gal Costa, que chegara ali poucos dias antes e recebia Gregório cantando de Força Estranha, justamente os versos que homenageiam “o menino correndo” (certamente com a pipa na mão), fazendo a Travessia e já sabendo que “a vida é amiga da arte”… Pude vê-la prosseguir,  depois de piscar repetidas e marotamente, do jeitinho que ele gostava:

“Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista… O tempo não para e, no entanto, ele não envelhece… Aquele que conhece o jogo, o fogo das coisas que são, é o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão!”

Que beleza de recepção! Certamente a inauguração de uma nova série de saraus gregorianos, estava acontecendo naquele momento…

Retornando, ainda que involuntariamente, ao lugar onde eu estava, e, talvez para não me sentir tão só, dispus-me a abrir a porta de meu coração às lembranças…

Foi Fernando quem trouxe Gregório para minha história. Primeiro, falou das pipas que este produzia. Convidou-me para ir com ele a uma exposição delas, mas acabou desistindo, à última hora, frustrando meu entusiamo, porque iniciou um vendaval, naquela tarde de outuno e ele não achou prudente nos arriscarmos…  Só aceitei aquela precaução exagerada, porque sabia que Fernando não gostava de vento. Mesmo assim, me estranhava, porque pipas e vento são conceitos amalgamados, na minha parca compreensão dos mistérios dos voos…

Mas as pipas de Gregório, feitas de tecidos, rendas, fitas, linhas, botões e tanta coisa mais pra além de bonita, eram quadros flutuantes, logo percebi… Elas não voam; fazem voar quem as contempla. Cheguei a ser presenteada por ele, com duas delas, que guardei com imenso carinho no Centro Cultural e depois no Sítio Retiro, aquele lugar tão especial, em Bom Jardim, que nem Gregório, nem Fernando jamais chegaram a visitar. Bem que tentei seduzi-los com o café que produzia ali. Até porque ambos eram apreciadores de bom café. E de broinhas. Eles me ensinaram, no entanto, que esses são produtos que podem transformar o mais refinado bistrô urbano em um cantinho de cozinha da roça… Basta a reverência e o pausar das horas. Sabedoria preciosa!

Era o tempo do Centro Cultural Viva, ali, na rua Goethe, quando tudo isso ia acontecendo. E eu digo que Gregório se agregou ao grupo, como se fosse mesmo uma lição de cartilha, aquelas formuladas pra fazer criança aprender o treme-treme rascante do sotaque, que ele gostava de destacar, em suas narrativas. Ah! Seu jeito de contar histórias tão peculiar, único e perene! Posso ainda ouvir sua voz ir arranhando forte e docemente cada palavra, dando-lhe entonação lenta,  para ir formando, através de cada escuta, o sentido particular.

Mais adiante, na noite, em que nos reunimos para encerrar o trabalho do nosso Centro Cultural, em Botafogo, Gregório estava conosco, sentado ao redor da mesa onde encarávamos, fraterna e solenemente, o início do luto pelo final de um projeto que fora maravilhoso e que nos levara a preencher, através da alegria da arte, em noites memoráveis, o pouco tempo de vida que Fernando ainda tinha a usufruir. Naquele momento de tristeza inadiável, Gregório assumiu naturalmente o lugar do sábio ancião, aquele que garante o tom de plácida serenidade às perdas inevitáveis.

Juntos, eu e ele chegamos a fazer uma oficina do livro “Mulheres que correm com os lobos”. Era sobre a história “Mulher Esqueleto” e Gregório nos mostrou como produzir o esqueleto das pipas, e nos falou sobre a necessidade da expressão do desejo e do pedido espontâneo de ajuda.

- Pede! Pede! Pede! – ele ensinava, com a mais autêntica  simplicidade que pode haver.

Depois, Fernando partiu. Um hiato se fez em tudo que cercava o movimento de criar vida, para que fosse possível metabolizar tamanha perda! Naquele momento, soube depois, narrada  a mim, quase como história de amor/terror, pelo próprio Gregório, ele precisou carregar nos braços o corpo do amigo tão amado, da saída de sua casa, até o carro fúnebre. Como acontecera com Álvaro Mutis -  grande romancista colombiano e também homem de muitos ofícios, entre eles o de locutor de rádio, amigo especial de Gabriel Garcia Marquez, (que registrou esse detalhe em “Eu não vim fazer discurso”) - Gregório desceu o corpo inerte de Fernando, em posição vertical, pelo elevador, num último abraço que, segundo me confessou, ficou marcado em seu peito como uma couraça dolorosa.

Na metabolização daquela perda, tão difícil para todos nós, dali pra frente, Gregório ficou foi se tornando um amigo mais e mais especial. Deste lugar, chegou-me seu convite e sua indicação para que eu fosse ao Acre – sua terra natal – por duas vezes, participar de projetos para educadores e contadores de história. Recebida com imenso reverência pelos corações escancarados daquele povo maravilhoso, pude conhecer e admirar seu trabalho como Presidente da Fundação Estadual de Cultura, participar de inúmeros eventos ligados às culturas indígenas, fazer o lançamento de meu livro “Vasos Sagrados” em noite memorável na Biblioteca Pública, a menina-dos-olhos da Fundação, visitar o trabalho dos professores indígenas, as Casas de Leitura, os Museus, além dos Parques Florestais… Uma parte preciosa do mundo particular de Francisco Gregório Filho, que ele sempre compartilhava tão generosamente. Ô sorte, a minha!

Uma manhã, em Rio Branco, fui convidada  a acompanhá-lo ao programa da Rádio Difusora de Rio Branco, que ele capitaneava. Que delícia! Devo confessar que eu julguei que poderia ter me tornado uma radialista, dali pra frente, tão empolgada me senti! E agora me ecoa, nos ouvidos, a música que ele escolheu especialmente para a ocasião, tirada do LP Circo Místico : “Na Carreira”:

“Hora de ir embora
Quando o corpo quer ficar
Toda alma de artista quer partir
Arte de deixar algum lugar
Quando não se tem pra onde ir…”

Hoje percebo que, naquele momento, Gregório estava me ensinando a lição budista da transitoriedade, extraída por Chico Buarque e Edu Lobo do conhecimento da alma brasileira mais pura e profunda.  Não por acaso, aquela manhã fora iniciada com o prazer de saborearmos mingau de banana verde, na barraquinha do mercado livre de Rio Branco. Luxo puro, experiência inigualável!

Graças a Gregório, em Rio Branco, aprendi sobre a potência superior das águas, caminhando pelos lugares onde ele viveu, onde cresceu, onde encontrou seus parceiros. Ali, ele me falou das sementes, das árvores gigantescas, da dignidade e do poder inquebrantável de homens inesquecíveis como Chico Mendes.

Algumas vezes visitei suas oficinas, no Paço Imperial, na biblioteca do  Museu do Folclore, sendo sempre recebida com carinho e, talvez, com mais distinção do que eu merecia. Porque Gregório, como verdadeiro mestre e cavalheiro, sempre soube estimular o valor e o protagonismo de cada um de seus discípulos.

Depois, a vida nos jogou pra lá e pra cá…

Eventualmente eu o encontrava, na Cobal, com Lúcia, sua esposa. Brindávamos com um gole de boa cerveja, nos momentos matinais dos sábados, no intervalo de minhas compras, jogando ao acaso um papo leve e nutritivo. Era bom, alimentava e sempre me ajudava a seguir adiante, com mais otimismo.

Outras vezes, a casa da dona Antonia - a vizinha da rua Goethe, que fabricava pães poeticamente e que sempre reuniu os amigos do Gregório e dos escritos - me trouxe acolhimento, oferecendo-me o prazer de desfrutar dos cuidados, das recitações, das músicas, que brotavam como agradecimento a ele.

Em outros momentos, o Museu do Telefone, vizinho de minha casa, nos ofereceu mesa, café e ambiência para costurarmos conversas sem compromisso, mas com muito comprometimento afetivo. E nós, sempre voltávamos a falar em Fernando, em projetos, em livros e possíveis parcerias. Exercíamos o delírio como o Fernando, um incentivador desses estados d’alma,  certamente nomearia…

Pouco antes de eu partir para Portugal, reuni na rua Goethe, na casa de meu filho, os parceiros do Educação Viva – o projeto do Centro Cultural, de que Gregório participara. Nesse dia, ele chegou qual Moisés, salvo de águas torrenciais, encharcado por um temporal inesperado e, mesmo assim, atencioso, como sempre. Aquele encontro era uma tentativa de reviver o companheirismo antigo, tão necessário num momento difícil de nosso país e nós nos empenhamos nessa intenção, até aonde ainda era possível ir.

Não voltamos a nos encontrar presencialmente. Há pelo menos dois anos e meio vinha acompanhando suas criações pela Internet. Com admiração, mas, confesso, com certa distância regulamentar, que, infelizmente, a tecnologia ainda me passa. E foi assim, até a última apresentação que ele postou.  E, repente, ele não está mais aqui.

A notícia me surpreendeu lá no Retiro, em Bom Jardim. Sozinha, desfiei para mim mesma essas lembranças, querendo encontrar um sentido, um lugar de consolo. Não o há.  Nos dias seguintes, andando pelas ruas de Nova Friburgo, tão suas queridas, e sentada no antigo Grão Café, espaço de delícias a que ele me apresentou, parecia-me sentir sua invisível presença.

Gregório se foi e um até breve é o que de melhor posso desejar que tudo isso represente..

Volto-me, então, ao que ele legou. Seu testamento foi formulado em cada dia de sua vida e ele deixou uma riqueza de patrimônio imaterial, impossível de avaliar. Ele ensinou, estimulou, corrigiu, formou, apontou caminhos e abençoou, de norte ao sul do Brasil, uma quantidade incomensurável de contadores de histórias, de educadores, atores e produtores culturais.

Agora, liberto dessa missão, que cumpriu abnegada e magistralmente, resta-nos honrar tudo o que dele recebemos. Nesta última semana, mais que nunca, o amor imenso a ele tem sido contado e cantado em verso e prosa nas redes sociais, nos encontros, nos escritos, nas homenagens.

Retomando Garcia Marquez, no mesmo livro (“Eu não vim fazer um discurso”), ele se refere a Julio Cortázar nomeando-o como “O argentino que se fez amar pelo mundo”. Como argumentação Garcia Marquez diz:

“Os ídolos infundem respeito, admiração, carinho e, claro, grandes invejas. …. Cortázar inspirava todos esses sentimentos, mas além do mais inspirava outro menos frequente: a devoção. Foi, talvez sem ter se proposto, o [argentino] que se fez amar por todo mundo.”

E conclui, me dando o mote para celebrar Gregório:

“Preferi continuar pensando nele como sem dúvida queria, com o júbilo imenso de que tenha existido, com a alegria entranhável de tê-lo conhecido e a gratidão por [ele] ter deixado , para o mundo, uma obra talvez inconclusa, mas tão bela e indestrutível como a sua lembrança.”

E, parafraseando Gregório, talvez ele nos dissesse :

- Firmeza!

De minha parte, não cansarei de repetir:

- Viva! Gregório Vive!

 

                                                           M.I.E.S – 17/11/2022

domingo, 5 de dezembro de 2021

 

Ruta

 

PRIMEIROS PASSOS

Nunca fui uma desportista. Durante minha vida, exercitei muito mais o cérebro que os braços e as pernas. Só o que impediu de vir a me tornar uma sedentária assumida foi meu prazer em caminhar e, desde que deixei de guiar automóveis, sempre que possível, meus pés se tornaram meu meio de transporte preferido. Principalmente em lugares que não conheço, escolho ir a pé, de um espaço a outro, aprendendo, assim, muito mais detalhadamente os caminhos, ao mesmo tempo em que observo as pessoas e todo o ambiente a minha volta. Sinto um prazer imenso, durante essas excursões!

Quando morei por uma longa temporada em Torquay, na Inglaterra, saía depois do almoço a caminhar pelas escarpas à beira-mar, subindo pelas ladeiras sem fim daquela linda cidade vitoriana, até me perder e só re-encontrar o caminho de casa, já à noitinha. Sabendo que Clarice Lispector vivera ali, muitos anos antes, exatamente pelo mesmo intervalo de tempo que eu (6 meses), pus-me, um dia, a acompanhar um roteiro que fantasiei que ela houvesse feito. Caminhamos assim, juntas, e eu a ouvia dizendo sobre o tédio, as perplexidades e hesitações que vivera naquele período. Não foi uma caminhada propriamente alegre, mas me aproximou mais dela, reforçando suas palavras, escritas na época em que estivera naquele litoral. A cada passo, sentia uma emoção grande, difícil de descrever, pela afinidade profunda com seu sofrimento emoldurado, de forma contrastante, por uma natureza pródiga, de beleza invulgar…

 







O tempo passou e eu continuei minha vida nômade.

Morando em Portugal, há três anos, tive uma aula muito especial, no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, onde o palestrante, um professor da Universidade de Barcelona, apresentou parte de seu projeto pedagógico de doutorado, sobre o caminhar. Sua fala totalmente despretensiosa, autêntica e, para mim, cativante, levou-me a participar ativamente da aula, fazendo considerações e até descrevendo certas experiências minhas, com as andanças.

Sim, houve um tempo em que morando no bairro do Flamengo (Rio de Janeiro), caminhava diariamente pela pista de pedestres da praia, com um gravador pendurado ao pescoço, que registrava o ruído de meus passos e a narrativa oral que eu ia fazendo, de meus pensamentos aleatórios. Chamei de Andanças aquele arquivo, que certamente mantenho guardado em alguma gavetinha deste baú eletrônico.

O fato é que, naquele dia, em Portugal, ao final da palestra do professor visitante, ao eu ir cumprimentá-lo, sabendo que minha dissertação de mestrado seria uma autobiografia sobre meu processo de formação como educadora, ele, muito provavelmente por gentileza apenas, me sugeriu enviar-lhe o texto, quando estivesse pronto.

Perto do final do curso, candidatei-me a uma bolsa Erasmus para um estágio na Universidade de Barcelona. O resultado positivo do processo seletivo saiu exatamente na véspera da paralisação das aulas, tanto em Portugal, quanto na Espanha, em consequência da Pandemia de Covid. Junto com todos os projetos que fomos todos obrigados a manter em suspenso, ficou o sonho acalentado, desde a juventude, de viver a experiência de uma bolsa de estudos em país estrangeiro.

Meses depois, minha defesa da dissertação foi realizada à distância e, embora, até então, eu não planejasse cursar o doutorado, exatamente pelo prazer que me deu a boa receptividade com que meu trabalho foi acolhido e o interesse dos arguidores pela minha escrita, passei a considerar a possibilidade de continuar os estudos. Logo em seguida, me dei conta de que, mantendo-me na universidade, teria ainda a possibilidade, de viver a experiência de ser uma bolsista Erasmus.

 

O PONTO DE PARTIDA

Foi assim que, em 1º de outubro deste ano - 2021 - mesmo sem estarmos ainda totalmente livres do flagelo da pandemia, cheguei a Barcelona. Tivera uma torção de tornozelo uma semana antes da viagem, mas não esmoreci. Claudicante, aos 73 anos, instalada em uma residência internacional para estudantes universitários, eu me dispus a receber o que a vida me traria de desafios, encontros, descobertas e principalmente aprendizagens. Infelizmente, a proposta de ser uma aprendiz do processo pedagógico através do caminhar se tornou inviável, porque o programa não estava sendo levado adiante em tempos pandêmicos, em que a exigência dos cuidados sanitários não permitem deslocamentos de grupos de alunos. Mesmo assim, o professor Jordi Garcia Farrero, o mestre-caminhante, me acolheu como orientador do estágio e foi-me abrindo oportunidades de participação em suas aulas, em seus grupos de leitura, em seminários, em um Congresso Internacional sobre a Educação e o Mar, que acontecerá no próximo ano. Até que, um dia, ele me trouxe o convite para um Colóquio Internacional em homenagem a Walter Benjamin, que aconteceria em Girona, uma bela cidade medieval, próxima a Barcelona. Tratava-se de um colóquio sobre História e Ficção, com enfoque na memória trazida pelas narrativas sobre o passado. Este encontro se repete a cada ano, buscando dar continuidade às preciosas reflexões desenvolvidas por aquele pensador. Acontece na Faculdade de Letras de Girona, sob o patrocínio do Museu Memorial do Exílio, do Memorial Democrático e da Cátedra Walter Benjamin, Memória e Exílio da Universidade de Girona.



 


Mesmo sem ser uma grande conhecedora da obra de Walter Benjamin, tenho por ela profundo interesse e logo me propus a participar do evento. Além das conferências que reuniriam grandes escritores e professores universitários, o programa previa uma segunda parte, em Portbou, a cidade costeira onde Walter Benjamin morreu. Para ali foi planejado, além de cerimônias no Memorial feito em sua homenagem, apresentações artísticas e uma rota a pé desde a cidade francesa de Banyuls-sur-mer, até Portbou, refazendo o percurso feito por Walter Benjamin, em sua saga ao cruzar, caminhando, a fronteira entre França e Espanha, no intento de chegar em seguida à Portugal e, de lá, poder, enfim, viajar para os Estados Unidos, para onde já tinha um visto garantido, escapando, desse modo, da perseguição nazista.

Esta história, que eu conhecia por alto, ganhou novos contornos, para mim, à medida em que a data do Colóquio foi se aproximando… À recordação da morte trágica de Walter Benjamin, em Portbou (narrada oficialmente como um suicídio), acrescentaram-se reflexões que eu já vinha intensificando, nesse período de estudos em Barcelona, sobre o destino dos grandes pensadores, que ousam se posicionar e resistir, formulando proposições de transformação da situação de miséria moral em que a espécie humana é capaz de se afundar. Certamente impossível alcançar total compreensão para o fato de a história registrar que, no dia imediatamente posterior ao fim da vida de Walter Benjamin, a passagem dos refugiados foi liberada. Ironia do destino, apenas? E, exatamente pelo inalcançável do sentido de toda essa tragédia, eu senti que precisava conhecer Portbou, precisava trilhar o mesmo caminho que ele fizera, não como homenagem exatamente, mas como parceria solidária por sua imensa dor.

Foi com esse espírito que cheguei de trem a Portbou, na sexta-feira, dia 19 de novembro à noite, após as atividades do Colóquio em Girona. Viajei sozinha e me encontrei pouco depois das 19h, em uma cidadezinha escura, praticamente deserta. Caminhando para encontrar o hostal onde passaria a noite, cruzei com menos de meia dúzia de pessoas, mas parecia que a noite, de uma lua cheia magnífica, estava repleta das sombras. Essas percepções visuais ilusórias, fugidias e inquietantes, eram para mim como restos, cicatrizes  de acontecimentos que nunca se apagarão e que acabaram por dar àquele lugar um destaque, nunca antes imaginado, certamente.





De Portbou, me ficou, enevoada, a lembrança da pequena e bucólica enseada, vista ao luar e ao amanhecer, antes da saída para cumprir a rota. É um lugar ao qual dificilmente voltarei, mas que precisava conhecer. A caminhada que fiz, me assegura que assim é.



 

A ROTA

Desde criança, aprendi na escola que os viajantes, ao se perderem, devem procurar localizar o Norte; que para se orientarem podem usar uma bússola e, na falta dela, podem se orientar pelo sol. Em classe, nos mostravam como nos posicionar em relação à direção onde o sol nasce e esticando ambos braços aos lados do corpo, traçar o cruzamento orientador. O Norte estaria sempre a nossa frente. Não é à toa que se usa a metáfora de se nortear, com o significado de buscar o sentido da vida. A verdade é que nunca me foi necessário, geograficamente, usar o expediente do posicionamento corporal. Tampouco tive uma bússola, embora o instrumento me encante, especialmente pela ideia da imantação. Mas, para a única casa que possuí, comprei aquele tradicional galo de metal, posto sobre os pontos cardeais, que se coloca no telhado, marcando a posição em que o terreno está. Era alguma coisa que me parecia completar a dignidade daquele sítio e me garantir a indicação de meu norte.




Pois, acostumada que sou a andanças em bosques, habituada a conversas com moradores de diferentes regiões rurais, tanto no Brasil, quanto em Portugal, nunca antes ouvira falar que pela posição do surgimento de certos musgos, nos caules das árvores, era possível localizar o ponto Norte, mesmo e especialmente, quando não se vê o sol. Essa lição, a primeira das inúmeras que ouvi no trajeto pelas montanhas, entre Banyuls-sur-mer e Portbou, me fez identificar o verdadeiro guia daquele meu percurso: Miquel Serrano Jiménez.

Miquel é historiador e conservador do Museu do Exílio, de La Jonguera. Um dos organizadores do evento, esteve, nos dois primeiros dias, diligentemente, organizando detalhes, que incluíam desde a anotação de presenças, a recepção de convidados, até a produção das fotografias e certamente muito mais, que escapou a minha observação. Para minha surpresa, lá estava ele, de manhã cedinho, em Portbou, aguardando a formação do grupo, para nos acompanhar durante a caminhada.

É verdade que, tendo me informado sobre as condições do terreno que trilharíamos, eu senti receio de não conseguir cumprir a meta. No entanto, felizmente, todos a quem me dirigi foram otimistas e me entusiasmaram a ir. Certamente por delicadeza, agora eu sei. De fato, aquela era uma missão quase impossível para mim, posso reconhecer. Acontece, porém, que desde o início, logo que, ao fazer uma pequena parada para tirar a primeira foto de registro da marca inicial do trajeto, eu me distanciei do grupo e quis correr para segui-lo, Miquel se acercou de mim e me tranquilizou, dizendo que eu não me preocupasse, que ele estaria a meu lado, acompanhando meu ritmo. E assim aconteceu, durante os 15 km que viriam a seguir, em subidas íngremes, em descidas bastante perigosas, transpondo obstáculos formados por pedras altas e pontiagudas, que eram preciso superar para seguir adiante…





Esse poderia ser apenas o relato de uma aventura vivida por uma anciã, no mínimo pretensiosa, que, decide acompanhar um grupo de mais de duas dezenas de caminhantes tenazes, verdadeiros globetrotters, seguidores obstinados da rota, olhando em frente (e, certamente, para o solo), sem se permitir maiores contemplações, parando apenas em momentos marcados para pequenos lanches, dentro da previsão de um tempo determinado para o cumprimento do programa. Mas o que me aconteceria durante aquele transcurso foi muito além desse desafio, que já teria sido, por si só, um acontecimento.

Logo que percebeu que eu parava de tempos em tempos para olhar a paisagem, Miquel começou a me contar sobre aquelas paragens. Assim, aprendi que ele é oriundo daquela região, de uma localidade que fica atrás de uma das enormes montanhas que estavam a nossa frente. Por conta disso, foi me dando informações sobre as vindimas que ladeavam o caminho, explicando-me como se fazem as podas, em que época do ano e de que forma, como os ramos são recolhidos para transplante, o que logo pude constatar in loco, ao ver um casal se dedicando justamente a esse trabalho, em um ponto mais alto do terreno. Pudemos saudá-los e seguir adiante, já entretidos numa conversa amigável, que mesclava os conhecimentos que ele ia me passando com informações sobre nossas vidas. Assim fiquei sabendo que ele tem a idade de minha filha mais nova, que já tem três filhos, que tem o mesmo nome de um antepassado seu, embora ao batizá-lo, não houvesse a intenção deliberada de repetição, por parte de seus pais. Em retribuição, contei-lhe também a história de meu nome, minha quase ressurreição no momento de nascer, razão de terem me chamado Maria. E, desde que me recebera no Colóquio, era por Maria que Miquel me chamava.


 

Nessas alturas, já ofegante pelo esforço da subida íngreme, eu ia parando mais amiúde, querendo tirar fotos para lembrar, e também para poder compartilhar com meus filhos e netos aquela experiência. Sem demonstrar qualquer espanto, preocupação ou aborrecimento, Miquel estacava solícito a meu lado, aguardando-me. Assim, encontramos os sobreiros - as árvores de cuja casca se extrai a cortiça – e ele me mostrou a diferença entre vários tipos da mesma espécie do vegetal. Lembrei-me do ensinamento psicanalítico que compara o falso self ao excesso da cortiça no tronco da árvore, acabando por matar a seiva do vegetal (o verdadeiro self). Ele, então, me explicou como se faz a retirada da cortiça, por que razão e em que época. Contou-me que, quando menino, se dedicou a essa tarefa acompanhando o trabalho do avó, que lhe transmitiu uma lição inesquecível: que a delicadeza necessária para retirar a cortiça, sem magoar o caule da árvore, pode ser comparada àquela que um homem deve ter, ao despir uma mulher.

Nunca poderia imaginar que alguma comparação pudesse ser igualada ou até superar a que me ensinara meu mestre Coimbra, sobre os perigos da máscara social se prender ao nosso verdadeiro self e sufocá-lo. Mais tarde, lembrando esse momento da conversa com Miquel, senti imenso contentamento por já ser idosa o suficiente para que aquele moço bonito pudesse me contar com tamanha naturalidade aquela história, sem se preocupar que eu a pudesse julgar inadequada. A transmissão cultural tem caminhos misteriosos: três gerações intercambiando conhecimentos e sabedoria, que tento passar adiante aqui, para alcançar maior dimensão ainda. Então, prosseguindo pelo tema do cuidado, falamos das cicatrizes, das feridas que nunca fecham, das marcas dos sofrimentos. Nesse ponto do trajeto, já nos reconhecíamos como velhos amigos. Em alguns momentos eu lembrava de Walter Benjamin, pensando em como deve ter sido difícil para ele fazer, por ali, em trajeto tão árduo, uma fuga absurda, gerada por uma perseguição genocida. Quantos ferimentos quase impossíveis de curar, produzem as guerras! Quantas cicatrizes deformadoras acumulam-se na vida dos seres humanos!  

Algumas vezes Miquel me dava informações, detalhes daquela história fatídica, mas logo voltávamos a falar sobre o que nos cercava. Foi assim que ele me mostrou os líquens, e, em seguida, as viçosas samambaias, me explicando como nasciam, como se reproduziam com facilidade aqui e ali, sementes levadas pelo vento…


Aí, eu parava e olhava para trás e ele se lembrava de alguém, a que ele acompanhou pela mesma travessia uma vez, que fazia a caminhada de costas, para ir vendo o percurso já cumprido, enquanto andava. E tínhamos a oportunidade de pensar, juntos, em como isto era importante na vida: avaliar o já vivido, enquanto se segue adiante.

Quando já estávamos bastante distantes do grupo, por conta de meu caminhar mais lento, apareceu, de repente, um outro cavalheiro: Pau. Voltara espontaneamente para se juntar a nós, na retaguarda, e se propôs a ser, também, meu auxiliar. Passou a caminhar na minha frente, oferecendo-me a mão, que mantinha todo o tempo estendida em minha direção, pelas suas costas. Miquel seguiu atrás de mim, como faz o lobo-chefe, na matilha. Contei-lhes o que sabia sobre os lobos e sua organização social exemplar. Claro que, pouco acostumada a tanta gentileza, me senti constrangida, à princípio. Contudo, a conversa que já vínhamos mantendo se expandiu e passou a incluir o Pau e, a essa altura, já nos sentíamos como três mosqueteiros. 




Miquel nos mostrava, a horas tantas, os resíduos das fezes dos pequenos animais roedores, sobre as pedras do caminho. Ensinava-me como era possível identificar o tipo de animal, pelos restos de sementes que sua digestão deixava intactos. Nesse ponto me lembrei do mito indígena brasileiro “O jabuti e a anta” e perguntei se queriam ouvi-lo. Eles se interessaram imediatamente, parecendo não ter mesmo nenhuma pressa de alcançar o restante do grupo. Nos retivemos por alguns momentos à beira do caminho e, assim, pude lhes contar a história, trazendo as principais considerações, que sempre me ocorrem, ao final. Tive o prazer de verificar seu vivo interesse por aqueles novos conhecimentos e desejei que Miquel pudesse compartilhá-los com seus filhos. Prometi-lhe enviar-lhe um livro meu, sobre mitos indígenas, logo que esteja de volta a Portugal. E com que honra o farei!

Ao relatar tudo isso, me dou conta de algo extraordinário: os meus dois parceiros falam catalão e nos comunicávamos perfeitamente, mesmo que eu só pudesse me expressar usando um misto de português/espanhol/catalão, que normalmente as pessoas em Barcelona parecem não entender bem, impossibilitando-me manter com elas conversas mais longas. E lá estávamos nós, na linguagem universal do afeto, sem fronteiras, sem defesas, sem perder nenhum momento de comunicação!

Foi ainda bastante longo o caminho entre as montanhas. Víamos, ao longe, as gigantescas torres de distribuição da eletricidade, cruzando espaços incomensuráveis.  Lembrei-me dos moinhos eólicos de Torres Vedras, em Portugal, meus guerreiros simbólicos e, ao mesmo tempo, mestres orientadores de um tipo particular de meditação. Vieram novas e oportunas considerações sobre o aproveitamento dos recursos da Natureza, generosa e sábia. Subimos ainda muito mais, até que começasse a descida, anunciada por Miquel como bem mais perigosa. De fato, algumas vezes era realmente assustadora! Verdadeiros tobogãs abissais, de pedras lascadas, estendiam-se a nosso lado, fazendo com que nossa atenção a cada passo tivesse que ser mais e mais aguçada. Um pisar em falso parecia poderia ser fatal. Mas meus guardiões eram fortes, seguros e haviam se aliado a meu propósito. Houve um momento em que escorreguei e poderia ter tido uma queda. Mas estava tão bem amparada, que simplesmente deixei-me deslizar sobre a pedra, onde pisara perdendo o equilíbrio, até o solo, repetindo, para acalmar sua visível apreensão, pra lá de natural:

- No pasa nada! – No pasa nada! Tranquilo!

E rimos juntos, porque, afinal, passado o susto, foi mesmo divertido.

De repente, surgiu mais um dos participantes do grupo, aparentemente curioso em saber o que nos retardava, e contou-nos de alguém tivera vertigens durante a escalada. Depois, quando já estávamos bem adiante, onde a vegetação mais fechada começa a cercar o caminho, vieram outros dois – uma mulher e um outro homem. Paramos junto a uma fonte natural, onde Walter Benjamin também estivera. Eles comeram seu lanche. Eu preferi não ingerir nada, além de pequeninos goles de água e muito ar puro. Sentia-me forte. O cansaço era parte do bem-estar.



 

Cumprimos ainda boa estirada, até chegar ao topo, à fronteira, o cume do itinerário. Cristina, a mulher jovem que se juntara a nós, conversava comigo, com simpatia e familiaridade. Fotografei meus dois anjos-da-guarda, antes de passarmos pela cerca, que delimita os terrenos fronteiriços, como contenção dos animais. Lá do alto, 360º de visão, num dia de céu azul esplendoroso! Meu coração exultava! Um dos parceiros que chegara nesse final da linha, sugeriu que Miquel poderia pedir um carro do Departamento de Turismo, para me levar pela estrada, até Portbou. Miquel, sempre solícito, me consultou e eu lhe disse que só aceitaria a ofertam se isso fosse melhor para eles, se eu os estivesse entravando. Ele disse que de forma alguma e, juntos, uns mais a frente outros mais atrás, agora em grupo de 6, descemos o longo caminho por estrada de chão, que leva a Portbou.



 

Aí estão Miquel e Pau, guardiões, parceiros e amigos, com que a Ruta me permitiu encontrar.


Eu e Pau tivemos a oportunidade de falar, então, sobre nossos trabalhos. Ele me pediu que contasse sobre a escola que eu criei, no passado. Depois de me ouvir, contou-me sobre a atividade que vem desenvolvendo com o grupo aberto que ele chama de pessoas pedintes, mas que, tratou de esclarecer, não são mendigos, no sentido literal do termo. São pessoas diversas que elegem outras para garantir sua sobrevivência, o atendimento a suas necessidades, quaisquer que sejam (materiais, psicológicas, espirituais), pondo-se em situação de incapacidade. Pediu-me uma sugestão para nomear esse trabalho, que não reconhece nem com características de escola, nem de centro de qualquer espécie. Bom desafio! Pensar a troca de cuidados entre seres humanos, sem a noção de centralização. Sigo pensando, desde então…

Na última etapa da rota, a pressa era minha. Lembrei-me que precisava pegar minha mala no Hostal, às 16h. Mesmo com as pernas sinalizando o extremo esforço que eu fizera, tratei de intensificar a marcha e, desse modo, eu e Miquel entramos na frente daquele pequeno grupo, pelas ruas de Portbou.

Logo depois de recuperar meus pertences, fui encontrá-los na enseada. Estavam confraternizando e, convidada, eu brindei com eles o nosso encontro inesquecível e o sucesso da empreitada. Agradeci sincera e efusivamente a Miquel e a Pau, por cada momento compartilhado nas montanhas. Pau fez questão de deixar comigo o livro Angelus Novus de Walter Benjamin, recomendando-me que lesse o capítulo Destino y Carácter. Trocamos contato, de forma a podermos voltar a falar sobre isso.

Não fui à homenagem no Cemitério, onde há um túmulo simbólico de Walter Benjamin, já que ninguém sabe, ao certo, onde ele foi enterrado, no mesmo dia de sua morte. Nem quis ir ao Memorial, tampouco. Eu estivera com o melhor de Walter Benjamin, nas últimas horas e queria guardar comigo a expressão viva que eu obtivera de seus ensinamentos sobre memória, história, linguagem, em tudo que acabava de viver.

No trem, partindo de Portbou de volta a Barcelona, percebi ter dado sentido ao projeto de estágio sobre caminhada pedagógica, de que, um dia, resolvi fazer parte.

Vida que segue…

 

                                                                                                   M.I.E.S.














domingo, 5 de setembro de 2021

EVOCAÇÃO

 

EVOCAÇÂO

Os povos indígenas, legítimos donos dessa terra, estão, há duas semanas, acampados em Brasília, à espera de que os senhores das leis decidam se vão, ou não vão, respeitar seu direito inalienável de viver nas regiões das quais são os únicos guardiões verdadeiros e capazes. Não há nenhum respeito pelo seu sacrifício em estar ali, expostas à enorme distância de seus territórios, à mercê de toda sorte de riscos, naquela cidade  inóspita. Os senhores das leis adiam a votação arbitrária a seu bel prazer, esperando, certamente, esvaziar a mobilização indígena.

600 mil pessoas já morreram de Covid-19 e muitas das que se infectaram e sobreviveram estão ainda sem solução para as sequelas gravíssimas que a doença lhes deixou. Os senhores das leis discutem, dia após dia, as barbaridades que vieram (e seguem) sendo executadas pelo governo federal e seus asseclas, mesmo que saibamos que nada poderá reverter o genocídio que vem sendo praticado por eles. Gasta-se tempo precioso e rios de dinheiro para julgar o que já seria condenável por princípio. E há quem se delicie com esse circo de horrores.

O desemprego, a fome, a miséria alastra-se pelo país, trazendo o prenúncio de um desespero que logo se abaterá sobre todos os que ainda mantêm um mínimo de dignidade. Por outro lado, enquanto o Brasil agoniza, muitos se alienam, vivendo como se tudo isso fosse natural ou inevitável.

Mas depois de amanhã deverá ser celebrado o Dia da Pátria. A criminalidade legalizada, a quem foi entregue o poder, pretende dar salvas sobre essa terra saqueada, ensanguentada, ultrajada, estuprada por mais de cinco séculos e golpeada de morte, agora. Querem pisotear compassada e solenemente, com coturnos militares polidos vigorosamente, a dor e o desalento do povo. Contam com a adesão de um fanatismo cego, que hipnotiza e imbeciliza tantos.

Nesse momento, há grande temor espalhado no ar, uma sensação de véspera, que já se urgencia há 7 anos. E existe, também, o desejo de vingar nossos mortos. Trucidados, envenenados, soterrados pela ganância, eles foram se tornando sombras, que nesse momento ganham força pela recordação, que os transforma em presença.

A Pátria tal como ensinada em nossa infância passada, abrigo de vida e criadora de caráteres dignos, era uma fantasia, percebemos, por fim. Por isso, será preciso recriar o significado desse termo, talvez transformá-lo. Necessário até, provavelmente, inventar uma nova bandeira,  inaugurar um tempo de novas utopias. No entanto, para que isso possa acontecer, precisamos olhar pra trás. Sim, a nosso frente estão os bárbaros, celebrando a morte com armas e mãos ensanguentadas. Mas, atrás de nós, estão nossos antepassados, nos ensinando o caminho de um poder infindo, que nasce do necessário reconhecimento de quem somos.

Irremediavelmente criados com almas miscigenadas, seguiremos errantes e desvalidos,  enquanto  não assumirmos o orgulho de sermos uma nação de seres humanos com um passado de vínculos profundos, gerados pela necessidade premente, que nos fez sobreviver à escravização, à submissão, a toda sorte de humilhações. Nossa herança mais remota é de um comprometimento profundo com a Vida e é ele que nos trouxe até aqui.

Muito mais do que um sentimento de pátria, é o direito de sermos livres e íntegros o que a memória mais remota da passagem dessa data precisa despertar em nós. Mas a autêntica liberdade é a de não sermos mais conduzidos como rebanho, nem mesmo instigados por provocações planejadas. Para podermos recuar, quando preciso, e surpreender, por trás, os inimigos que precisamos vencer.

Que venham os espíritos das grandes mães e pais indígenas, africanas e africanos, todos e todas que nos legaram seus colos, suas rezas, seus unguentos, seus conselhos, sua sabedoria, abrindo urgentemente, nesse momento sombrio, um caminho de percepção clara, que nos leve a alcançar a resolução desse enfrentamento!

                                                                                                               M.I.E.S. 

05/09/2021

domingo, 3 de janeiro de 2021

Um recorte de minha vida atravessada pela pandemia

 

Bem que, nos últimos dias,  eu desejei escrever um texto de celebração ao novo ano. Mas meu coração anda em câmara lenta, contrastando com meu acelerado ritmo pessoal. Um descompasso que denuncia: estou imensamente triste com tanto sofrimento a nosso redor.

A sensação que tenho é de que continuamos em 2020. Como se o tempo, que parece paralisado, nos mantivesse indefinidamente nesses dias cinzentos, que a pandemia inaugurou.

Reconheço, é verdade, que também surgiu um espaço para reflexões mais profundas, para quem se dispõe a esse mergulho, mais necessário do que nunca. E que ele nos traz dimensões outras, que vimos adiando e que vêm se abrindo, como portais que podemos transpor, em busca de mais sabedoria.

Imersa nesses pensamentos eu estava quando, sincronicamente, um artigo que escrevi em agosto passado, enquanto terminava minha dissertação de mestrado, foi publicado. É uma narrativa sobre a forma como a situação de exceção que estamos vivendo atravessou meu texto autobiográfico do trabalho acadêmico. Nesse artigo, faço considerações sobre as transformações pelas quais o mundo já vinha passando há alguns anos e de que, na emergência, fomos obrigados a encarar e suportar. Felizmente, meu olhar, embora extremamente realista, termina sempre por ser de esperança. 

Então, em lugar do texto que sonhei lhes enviar e que adio para o próximo ano, deixo, aqui, dois links: o do meu artigo e o da revista, como gratidão pela publicação. Quem se dispuser a ler, talvez encontre afinidades com meus pensares.   

E fica, também, meu desejo de que do tempo aparentemente invisível venha a construção de um presente mais pleno de consciência social e amorosidade.

 

https://www.revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/10465

 

https://www.revistas.uneb.br/index.php/rbpab/issue/current

 

 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

 

Pra quem acredita em Educação como Processo de Transformação,

um encontro

 

Atualmente parece que todo mundo faz Live. Se por um lado pode ser bom, porque aproxima as pessoas durante o tempo de isolamento social, confesso que o modismo me mantém na defensiva e raríssimamente me dispus a entrar nesse movimento. Até que chegou o momento da grande exceção. A Live “Centro Cultural Viva – a vocação de uma Escola”, que aconteceu em 22 de outubro passado, atendendo ao convite da Companhia Arteira, foi um momento de magia pura. O resultado está contado em um grande texto (Ecos de um encontro de amor), também publicado neste blog, em agradecimento aos que se juntaram a nós, com tanto carinho e entusiasmo.

Como apresentação, trago aqui as palavras de dois amigos que estiveram presentes:

 

“Esta Live é incrivelmente universal e, ao mesmo tempo, tão ‘da aldeia’. A verdadeira Educação é isso: uma aventura de afeto, respeito e liberdade para criar.” - Cláudia Ribeiro Ferraz

“Pelo que entendi, a Escola Viva misturou educação com cultura. Isso cria faíscas criadoras entre inovação e tradição, passado e futuro, nunca e sempre. Isso é muito bom!” – Roberto Prado

 

Enfim, foi um encontro muito importante, não tenho dúvida e por isso penso que vale a pena compartilhá-lo. Pra quem está lendo este texto e não assistiu à Live, informo que pelo link https://youtu.be/u4YpAHQiSDU é possível acompanhar o processo a que me refiro. Talvez seja possível entender a imensa alegria que todos sentimos, e que tentei reproduzir ao trazer, em um segundo texto, as palavras daqueles que, antes ou agora, unindo-se a nossa proposta de Vida, dispõem-se a expandir a distribuição dessas sementes, por espaços e tempos futuros.  Fica minha gratidão e a esperança de fazermos chegar a mais e mais pessoas nossa crença no poder transformador de uma Educação Viva.

 

 

ECOS DE UM ENCONTRO DE AMOR

 

“Esta Live é incrivelmente universal e, ao mesmo tempo, tão ‘da aldeia’. A verdadeira Educação é isso: uma aventura de afeto, respeito e liberdade para criar.” - Cláudia Ribeiro Ferraz

“Pelo que entendi, a Escola Viva misturou educação com cultura. Isso cria faíscas criadoras entre inovação e tradição, passado e futuro, nunca e sempre. Isso é muito bom!” – Roberto Prado

 

Este é um texto que vem sendo elaborado, silenciosamente, há 47 anos. Suas entrelinhas foram se formando pela criação de muitos autores, em tempos diversos. E agora, súbita e naturalmente ele vem à Luz. Sou apenas quem recolheu seus fragmentos e os une, para que se tornem um documento de amor.  E isto acontece em um tempo fora do tempo...

Assim venho sentindo este período de Pandemia que já se alarga em 8 meses... Mesmo sabendo que esta sensação de estar suspensa, vivendo algo que esperamos que seja intervalar, este estado de espírito não é exclusividade minha, porque as conversas com os amigos, cada vez mais esporádicas e sempre à distância, me confirmam nossa afinidade em sentir dessa forma o momento atual. A verdade é que venho ensaiando viver cada dia como único. Foi imersa nessa (in)disposição que concluí minha dissertação de Mestrado em Educação. Tardiamente, aos 70 anos, rendi-me à Academia e por sugestão de uma professora, que veio a se tornar minha orientadora, escrevi sobre minha formação, fazendo o que chamei de Inventariança, meu possível legado de educadora. Vai daí, acordei recordações infindas e, consequência  delas, surgiu o desejo de registrar, através de uma Live, com minhas filhas, a história de uma escola que criei no passado e se transformou, pouco a pouco em um centro cultural: o caminho da Escola Viva e sua vocação de vir a ser o Centro Cultural Viva.

Assim, no dia 22 de outubro passado, através do convite da Companhia Arteira, em uma Live capitaneada pela Gabriela Ribas, aconteceu um encontro que ouso chamar de memorável, cuja coroação se fará com este texto, trazendo a público a colaboração que recebemos, por tantos anos, de incontáveis pessoas. Muitos desses parceiros e parceiras, ao vivo, através do chat ou, logo em seguida, pelo WhatsApp, por mensagem ou por email, trouxeram, com suas palavras de fé, sua energia pessoal, para se somar à nossa. Esse momento de celebração de afinidades é fundamental para a comprovação de que, no caminho da solidariedade, de compartilhamento, de criação, de reinvenção, arriscando o novo pela constatação do imponderável, a transmissão da esperança em um mundo mais justo é, sem dúvida, a melhor postura.  “A sabedoria de poder arriscar!!!”, conforme comentou, no chat, Ivana Barradas, enquanto ouvia pela primeira vez aquelas histórias.

Às 21h, quando Gabriela Ribas abriu a sala virtual, chamando a mim e a Camila Prado para entrarmos em cena, já encontramos várias pessoas a nossa espera, em uma atmosfera de desejo de estar junto, que se confirmou com uma grande participação, ao vivo. Logo em minhas primeiras palavras, a emoção me tomou e envolveu a todos. Contando a forma como a Escola Viva foi criada, em 1973, evoquei pessoas queridas que não estão mais entre nós, mas que se fizeram inesquecíveis. Não por esquecimento, mas por um lapso involuntário, deixei de citar duas ex-alunas, que partiram cedo demais: Roberta Cury e Fernanda Meres. Seus nomes ficam, pois, impressos agora, para que sua lembrança de espontaneidade e doçura encontre, nas pessoas que as conheceram, seu lugar de ternura, o melhor dos sentimentos. E entre os adultos que já partiram, deixei de nomear meu amigo Lapu Barragat Maniaudet, professor de Filosofia do curso de Formação de Professores, que também deixou saudade.

Da mesma forma, omiti certos detalhes importantes, que preciso trazer aqui. Um deles, a razão da Escola Viva ter recebido este nome. Na verdade, a inspiração me foi dada por Narciso Bernardino, que era meu cunhado e que trabalhava na Didacta, uma subsidiária da Editora José Olympio, que recebia materiais didáticos - nacionais e importados - de excelente qualidade, para análise e possível produção. Junto com muitas outras prendas valiosas, Narciso me trouxe exemplares de uma revista que vinha sendo editada no Rio – chamada Escola Viva. Refletimos sobre a oportunidade de usar aquele nome para a escola e, com esse interesse, eu e Nélvia Sinedino Pinheiro, minha sócia daquela época, procuramos a direção da revista e recebemos autorização para usar aquele título. Depois de assistir à Live, Narciso me escreveu: “Hoje pude ver e ouvir com calma os emocionantes depoimentos de você, Gabriela e Camila e relembrar todo aquele tempo, com detalhes...da casa...do jardim... [referindo-se à primeira sede da Escola Viva, dentro da nossa casa] e da emoção do início de tudo e depois, distante, o de ter dado sempre muito certo.  Aliás acho que você, onde põe a mão, faz florescer o sucesso.  Parabéns pelas filhas, por transformar a vida de tanta gente... lindas vitórias sempre... Muita emoção e saudade, reitero que foi emocionante ver e lembrar daqueles dias, daqueles lugares, das pessoas enfim...  Muitos beijos...”. Fica a renovação da gratidão ao Narciso, de certa forma, junto com Regina - minha irmã - padrinhos da Escola Viva.

Fomos, pois, a primeira Escola Viva no Brasil e, por isso mesmo, dado ao sucesso que o nome provocava e uma vez que a tal revista não existia mais, cheguei a registrá-lo em Títulos e Patentes. Quando,  anos mais tarde,  o Governo do Estado do Rio de Janeiro lançou um programa  educacional com esse mesmo nome, pensei em reivindicar meu direito de propriedade da marca, mas sendo informada de que seria uma causa provavelmente perdida (já que se tratava de um programa de ensino público), abdiquei de meu direito de exclusividade. Dali pra frente tive notícias de que surgiram outras escolas com o mesmo nome, em vários pontos do país. Durante nossa Live, Sthellamaris Costa Dantas, escrevendo à Camila Prado, trouxe notícias de que uma série de inovações em educação, constantes de um programa governamental com este nome, chegaram a ser implementadas no Ceará: “Na década de 90 participei de um curso intensivo em Fortaleza para a aplicação de um projeto chamado ESCOLA VIVA, no Estado do Ceará. Foram selecionados 14 professores da rede pública, divididos entre redes estadual e municipal. Eu fui uma dessas pessoas. Entendi, ontem, que esse projeto partiu de vocês. Um trabalho maravilhoso que se o poder público tivesse abraçado, hoje os frutos seriam imensos. Eles até enviaram materiais didáticos para as escolas. Chegamos a ver uma sala pra pôr espelhos e trabalhar dança, vieram violões e outras coisas mais. Mas... a negligência foi imensa e aos poucos perdemos tudo. Tenho uma lembrança desse lindo curso, meus trabalhos, em parte, vieram da oportunidade que tive e dos companheiros de LUTAS sindicais posteriores, nas quais também estiveram presentes. Nossa vida profissional e humana jamais foi a mesma depois dessa experiência. Ela despertou uma de nós a fazer curso de ARTES e hoje é doutora: nossa amiga Cislania Brito.  Pelo que vi, ontem, trata-se do mesmo projeto... E você (Camila) tinha que fazer parte disso. Deus abençoe a ti e tua família por todo AMOR que mantêm pelos nossos adolescentes e pelo futuro que os espera.  Sinta meu abraço fraterno.” Também amigo da Camila e criador de um belo projeto de cinema, em Juazeiro do Norte, Elvis Pinheiro escreveu para ela: “Amei ouvir você, sua mãe, sua irmã! A Escola Viva é tudo o que há e devia ser espalhado pelo mundo! Conheci através dos livros da Ana Mae Barbosa quando estudava sobre arte-educação.” De maneira semelhante, a paraense Verônica Alencar, atualmente residente em Lisboa, depois de assistir a Live, me enviou uma mensagem: “Que Live Viva! Ameiii! Parabéns pelas filhas. Parabéns pela história. Se eu estivesse assistido até o fim, ao vivo, teria falado que a Escola Viva foi estudo de caso na Universidade Estadual do Pará – UEPA”. Enquanto o comentário da ex-aluna Ana Cristina Accioly, confirma que, para além de uma instituição de ensino, nossa Escola passou a ser uma ideia difundida, como sonhamos: “Eu acho que a Escola Viva e o Centro Cultural Viva continuam na ativa, fazendo jus ao nome. Aqui, pelas bandas do sertão de Alagoas, a gente continua fazendo Educação desse jeito criativo, livre e rebelde”. Enquanto Joaquim de Paula, amigo antigo, reconhece influências indiretas de nosso trabalho, ao escrever: “De alguma forma, muita coisa de vocês foi passada para o início do Espaço Ativo, em Itaipava, nos anos 90...”

Naquela noite, ao ir lembrando o processo de formação da Escola Viva, fui recebendo colaborações tão preciosas de ex-alunos, ex-professores e colaboradores, antigas mães de crianças da escola, amigos e amigas, que a vontade era mesmo poder responder imediatamente a cada colocação que ia sendo lida pela Gabriela, que, além de ser uma das expositoras, fazia também as vezes de anfitriã.  Ao ler o chat, dias depois, contei escritos de mais de 90 pessoas (entre as quase 300, que assistiram ao vivo), algumas aplaudindo desde o início:

Dodora Pereira da Silva: Olha que lindo, mãe e filhas e a Educação... (e juntou uma foto da Live, com a imagem de nós três compartilhando a tela).

Lúcia Cardoso: Experiências lindas que estão compartilhando conosco. Parabéns Camila, mãe e irmã admiráveis!

Maria Dolores Coni Campos: Alô, Carlos Gracie! Augusto Pessoa! Estamos aqui rente como pão quente, vibrando com Inez.

Monica Horta: Também estou aqui!!! Parabéns!

Elisameli Paiva Vilhena Leite: Que prazer estar aqui!

Janice Fernandes: Boa noite! Que bom poder estar aqui com vocês!

... e  muitas outras,  seguiram comentando o que ia sendo dito. O mais interessante foi perceber conversas sendo construídas entre os participantes, formando um texto paralelo, sobre os assuntos expostos, confirmando, assim, que o tema principal pertence, em verdade, a todos nós.

Sobre os fatos do passado, ex-alunos nos fizeram logo lembrar, por exemplo, os nomes dos times em que a Escola se dividia durante as Olimpíadas Internas:

Ana Cristina Accioly: Galo de Briga e Gato a Jato... Não esqueço disso NUNCAAAAAA!!!

Leonardo Ávilla: Gato a Jato e Galo de Briga! Saudades!

Luciana Kaulino: Eu era Gato a Jato.

O que trouxe imediatamente uma antiga professora para a conversa:

Eliana Souza Araújo: Leonardo Ávilla! Eu lembro dessas Olimpíadas!! Gato a Jato e Galo de Briga.

E provocou a curiosidade de quem só conhecia a Escola Viva de nome...

Elizabeth Lospenato: O que era Gato a Jato???  E o Galo de Briga?

 ... fazendo com que a alusão à oportunidade de promover jogos olímpicos, em que os estudantes eram estimulados a superar seus próprios limites, ao invés de valorizar a competição, trouxesse observações como a das ex-alunas Luciana Vilhena: “Competir com seus próprios limiares é maravilhoso. Outra forma de se relacionar com o esporte e com a vida!”,  e Roberta Ebert: “O concurso dos desenhos das camisas!”, referindo-se à criação não só dos nomes dos dois times, mas também das imagens feitas pelos alunos, com que as camisas eram estampadas. Tal entusiasmo tanto provocou a admiração de Carmen Nora Dias, amiga dos tempos do Centro Cultural e professora de Artes, que ouvia aquela história pela primeira vez:  “Muito legal esses nomes dos times da escola!!!”, como acabou trazendo de volta a paródia criada pelos estudantes, para as torcidas dos jogos intercolegiais. Luiz Eduardo Accioly: “Pluct, Plact, Zoom! O Viva faturou mais um!!!!”

A conversa toda confirma o que escreveu o Carlos Gracie: “Sim, uma lembrança puxa outra...” ao se referir à proposta que fiz, naquele dia, de que o livro sobre a Escola Viva, que sempre me é cobrado, seja escrito pelo grupo. A ideia recebeu apoio imediato dos ex-alunos: Leonardo Ávilla: “Pode contar conosco!”, Demétrio Barros: “Apoio a ideia!”, e se confirmou no P.S. da mensagem do Eduardo Ayres da Motta: “Vou escrever a minha parte do livro”, juntando-se ao clamor da ex-professora Vera Antoun: “Bora escrever!”, provocando imediatamente o oferecimento generoso da amiga Cláudia Ribeiro Ferraz: “Me proponho a ajudar!”, além do entusiasmo da Valdinha Barbosa: “Excelente ideia, Inez. Pra variar, né?” e do apoio da Silvinha Janayna: “Acho maravilhosa a ideia do livro!!!”, acrescentando “Transcreve as falas da Live” - o que gerou a ideia para esse registro, que faço agora. Quando um dia a reunião desses textos vier à Luz, os registros de imagens também serão contribuição de todos. Em 2005, num encontro que realizamos nos jardins do Museu Imperial, distribuí entre os ex-alunos/as, seus pais e mães e ex-professores/as presentes, as fotos colecionadas por 32 anos, com muito carinho. Leonardo Ávilla trouxe a lembrança: “: O re-encontro no Museu Imperial, com a doação das fotos da época da Escola Viva, foi um dos momentos mais marcantes da minha vida!”

Ao tratarmos do tema competição, voltaram as recordações das Feiras de Ciências. Em sua fala de intermediação, Gabriela Ribas (que, ao vivo, já havia se declarado totalmente disposta a começar a escrever sua parte do livro), ao explicar como eram as Feiras de Ciências, lembrou as etapas por que elas passavam: interna, municipal e estadual. Mas fora Leonardo Ávilla quem iniciara o assunto, declarando que ali, nas tais feiras, surgiu seu amor ao mundo científico, que determinou sua carreira futura: “Participamos de Feiras de Ciências e eu nunca mais saí da Ciência! Obrigado por tudo ESCOLA VIVA!” escreveu ele, continuando mais adiante: “A final estadual da Feira de Ciências no Maracanãzinho! Foi a primeira vez que viajei ao Rio de Janeiro. Lembro que ficamos em um apartamento minúsculo, uma galera enorme, mas um carinho proporcional!”. Nesse ponto, não pude evitar de recordar, e de compartilhar com os participantes, minha atuação extremada na última Feira de Ciências promovida pelo Governo Estadual, quando, como diretora da Escola Viva, desmascarei publicamente a premiação oficial, que destacara uma escola que nem sequer estivera presente ao evento. Tomei impulsivamente aquela atitude radical porque, embora tivéssemos sido premiados e muito valorizados, eu não podia deixar que meus alunos julgassem que podíamos ser cúmplices de uma falcatrua, compactuando com a desonestidade instituída. Foi uma tomada de posição importante e hoje sei disso mais que nunca! Sim, porque não é fácil ser coerente em uma sociedade onde “arranjos” se fazem sem o menor escrúpulo. E nós sempre tivemos bem definidos os valores éticos com que nos comprometemos. Dessa forma, fomos uma escola associada da Unesco, por introduzirmos o respeito aos Direitos Humanos em nossa programação curricular e nas atividades desenvolvidas, nas frequentes  festas (Juninas, da Comunidade, do Um e do Outro, do Saci, da Primavera) nos teatros, nas Feiras de livros, quando trazíamos convidados especiais  e propiciávamos aos alunos contatos culturais maravilhosos, como eles mesmos lembraram:

Leonardo Ávilla: “Uma festa linda da Escola Viva era no Dia do Folclore! (que chamávamos de Festa do Saci). Que delícia era conhecer o Brasil sem sair da escola!” Ao que Dodora Pereira da Silva, que escutava essas histórias pela primeira vez, reconheceu nelas um rizoma: Agora dá pra entender porque a Camila tanto me apoiou e incentivou para continuar escrevendo meus cordéis filosóficos... Obrigada!

Mais adiante, Leonardo Ávilla prosseguiu, dizendo: “Uma lembrança linda, que a Escola Viva me proporcionou, foi ter entrevistado Carlos Drummond para uma atividade! O grupo era eu, Aline Dunley e Flávia. Obrigado por tudo!” E, ao saudarmos Joaquim d Paula, participantes da Live e um dos fundadores do inesquecível Grupo Olá, Leonardo confirmou o valor do encontro com os artistas e escritores durante as Feiras de Livro: “Eu ainda tenho o vinil do Grupo Olá, que eles lançaram na Escola Viva, em uma das Feiras do Livro!” Desses momentos, também falou com muita alegria, a Flávia Quintanilha, após assistir a Live: “Lembro das feiras do livro. Eu achava o máximo e super sofisticado ter tanta gente interessada em nos apresentar cultura. Lembro muito das visitas dos índios. Uma coisa que me chocou também fora da escola, foi encontrar pessoas que não conheciam histórias, mitos, músicas, palavras indígenas que nos eram tão comuns.” E voltando ao tema das festas caipiras, ela atesta a forma autêntica de fazê-la: “Lembro do pau de sebo altíssimo que botaram no campo na Festa Junina!” Vanessa Prado mostrou também sua emoção, dizendo: “Que boas lembranças!, comentário completado por um Emoji de carinha com olhos de coração”.

Já Patrícia Ferreira de Souza Lima, lembrou nossa dedicação às atividades ligadas ao teatro: “As peças em que participavam alunos de várias turmas. Me sentia importante à beça. Era uma delícia!”, da mesma forma que a Luciana Vilhena: “Eu amava as peças de teatro!!” e a Luciana Kaulino: “Sei até hoje as falas do meu papel de raposa, na primeira peça da minha vida!”  E ela trouxe também a história de um dos jornaizinhos editados pelos alunos: “E o nosso jornal? Em Cima da Hora – era o nome! Eu fazia a coluna de Beleza e hoje sou esteticista. Comentário que fez com que Ana Cristina Accioly tomasse o mesmo rumo de lembrança, dizendo: “Eitaaa... Eu também fiz o jornal!!!”. A Flávia Quintanilha trouxe o testemunho do processo de uso da biblioteca a que todos os alunos tinham acesso contínuo: “Lembro tantas coisas boas! Lembro da biblioteca na sede do Valparaíso. Toda sexta-feira tinha que pegar um livro. Lembro de tantos livros que peguei lá pra ler!” E o Eduardo Ayres da Motta, que vive na Suiça e em função do fuso horário só teve acesso à gravação no dia seguinte,  também enviou suas considerações: “Muitas coisas que vocês contaram, pareciam tão lógicas e normais [à época], mas percebo [agora] que eram muito especiais e ímpares. Como por exemplo todos os tipos de crianças estudando juntas. Aonde existe isso? Feira de Ciências, a cantina da Vó Creuza, as aulas de teatro (a gente chamava de dramatização, não é?), jardinagem, as classes com poucos alunos... mil lembranças”. Com o que concordam a Fabiana de França: “Que saudades...”, o Demétrio Barros: “Grande dona Creuza!” e a Bee Campos: “Salve vó Creuza!!!”, lembrando os quitutes amorosamente preparados pela avó da Escola, minha mãe, que cuidava de fazer valer nosso princípio de que não fossem vendidos produtos industrializados como alimento para os alunos.

Da mesma forma que a Luciana Kaulino fez a ligação entre estágios informais e formação profissional: “Eu ficava lá o dia todo! Ajudamos a pintar aquela casa onde ficávamos no Estudo Dirigido! E depois de fazer o dever de casa, eu ajudava no Maternal. Adorava ficar com os pequeninos” e a Flávia Quintanilha confessou: “Lembro que eu era doida pra ficar maior e poder trabalhar de ajudante!”, outras pessoas declararam o quanto a Escola Viva e o Centro Cultural Viva foram importantes em sua iniciação profissional, como campos fecundos de desenvolvimento de vocações, como o Leonardo Ávilla, ao dizer: “Hoje sou biólogo, cientista. Será por quê?” e a Roberta Ebert: “Amava tanto a Escola que nunca tive dúvida que era esse o caminho que queria seguir. Hoje, tenho a sorte de poder passar um pouquinho do que vivi para as crianças da escola onde trabalho.” Já a Patrícia Esteves de Lacerda, nos dá notícias do percurso de seu irmão, (ambos ex-alunos da Escola, além do irmão, Robson), na mensagem que nos enviou: “Muito legal!  Estava assistindo com minha mãe e meu irmão Rodrigo. Aliás o Rodrigo é um artista autoditada incrível!” Durante a Live, eu fizera menção de gratidão a seu pai - Robson Lacerda - que me orientou a criar a Associação sem fins lucrativos Centro Cultural Viva, em 1986!

Outros depoimentos confirmaram o que eu declarara, ao contar que fazia parte de nossa filosofia de trabalho apostar em profissionais iniciantes, que tivessem interesse em se aproximar de nossa forma pioneira de trabalhar. Fátima Morgado foi dizendo: “Meu primeiro emprego foi lá. Tudo iniciou lá!”.  E Cynthia Thorno: “Meus primeiros passos como psicóloga foram na Viva.” Em seguida, Deise Matos declarou: “Minha primeira experiência em Educação foi na Escola Viva” e Luiz Fernando Hansen Gonçalves, generosamente, personalizou em mim, o mérito que é, em verdade, da instituição: “Devo a você, querida Inez, por ser professor!”, oferecendo à Patrícia Ferreira de Souza Lima o ensejo para reconhecê-lo: “Eu era sua aluna, Luiz Fernando e da Magali. Amava as aulas e vivia na biblioteca”.  Ana Cristina Accioly que, de aluna da Escola Viva, tornou-se funcionária do Centro Cultural escreveu no chat: “Eu tambémm trabalheiiii! Meu primeiro trabalho foi no Centro Cultural da Escola Viva. E eu tinha apenas 15 ou 16 anos. Acreditar nas crianças, nos adolescentes, também era o princípio da Escola Viva”, e lembrou ainda o tempo em que, junto com Gabriela Ribas, atuara como professora em uma instituição de benemerência: “Gabi!! Minha amiga e primeira parceira nos caminhos da Arte e da Educação.”

Reconhecimento aos professores não faltou nas postagens no chat: Luiz Eduardo Accioly, lembrou das aulas de flauta: “Tia Adriana me ensinou flauta doce!!!!”, comentário que motivou Patricia Ferreira de Souza Lima a dirigir-se à Adriana (que estava participando da Live, também): “Adriana, já falamos de você aqui.” Aquelas aulas também foram lembradas pela Flávia Quintanilha, que escreveu via Facebook: “Eu fazia o integral só às quartas-feiras, com aulas de flauta com a tia Adriana, que foi quem me ensinou a ler partitura”.  E a Tininha – a professora que trabalhou durante o maior número de anos na Escola - da qual eu já falara na hora das saudades eternas, voltou a ser lembrada pela Roberta Ebert: “Inesquecível tia Tininha!”, pela Luciana Vilhena: “Nossa! Tia Tininha!!!” e pela Maria de Fátima Morgado: “Tininha! Gente bacana”. Também a saudade da Cacau – a professora Maria do Carmo, do Maternal - mereceu uma exclamação amorosa da Luciana Vilhena: “Cacau!!!!”. E vieram também saudações à ex-professora Begoña Javarez. Do Leonardo Ávilla: “Como esquecer as aulas de Artes da tia Begoña?”, da Luciana Vilhena: “Nossa! Tia Begoña. Lembro muito! (completando o registro com um Emoji de coração), da Flávia Quintanilha, que escreveu, depois: “Lembro da aula de jardinagem na Santos Dumont, em cima do morro, lembro da aula de artes da tia Begoña, naquela sala maravilhosa, perto da piscina no Valparaíso, onde a gente fez uns cartões com tinta a óleo, pingada na água. Lembro de uma excursão à piscina de água natural, na casa dela”, completadas com a mensagem da própria Begoña, vinda lá da Suiça, via Facebook: “Eu me sinto muito grata de ter participado de essa linda história!” E a ex-professora Maria da Graça Gonçalves de Canha também marcou sua presença, com carinho: “Estou aqui vivendo essas lembranças deliciosas. Saudades de vocês”. Falamos da iniciativa da Vera Antoun de implementar aulas de jardinagem, logo no início da Escola, o que foi continuado pela Lucia Casoy e, mais adiante, ganhou o melhor professor que podia haver: Seu Francisco - o jardineiro oficial da Escola - nosso grande amigo. Luciana Kaulino acrescentou: “Tenho foto com Seu Francisco”.

As aulas lembradas por mim,  que enriqueciam o currículo e que foram transformando pouco a pouco a Escola Viva em Centro Cultural, despertaram nos ex-alunos, recordações prazerosas: “Lembro das aulas e apresentações de balé” – escreveu a Flávia Quintanilha, e entre os participantes da Live estava a Rosa Muller, uma das professores de balé que enriqueceram o trabalho da Escola, vibrando com a gente: “Vivaaaa! Momentos de magia. Muita magia nesse percurso (acrescentando emojis de bonequinhos com beijos e pares de mãos aplaudindo)”. Leonardo Ávilla, voltou a colaborar: “As aulas de Marcenaria, inesquecíveis! A excursão às cidades históricas de Minas Gerais!” E professores que estiveram conosco nessa época, estavam ali, participando dessa revivência. Como Paulo E. Diaz Rocha (que deu aulas de circo) e Aldo Medeiros (que dava aulas de música) e nos saudou, dizendo: “Grande alegria ver vocês e ouvir histórias tão lindas! Parabéns e cada vez mais sucesso, sempre!”

A mensagem da ex-aluna e parceira no Centro Cultural, Carla Valle Kahn, enviada da França por email, sintetizou o espírito formativo de nosso trabalho: “As palavras semente, amor, liberdade, criatividade, comprometimento foram usadas durante a Live e elas representam pra mim muito dessas experiências que vocês viveram e algumas das quais fiz parte. A liberdade - de expressão, de tentar, de errar, de tentar de novo, de falar, rir, chorar, criar, desmanchar, tão crucial para o desenvolvimento do caráter e para cada ser vivo. A criatividade - que é alimento e generosidade quando ganha espaço, foi sempre mostrada como algo que devemos cultivar, valorizar e ter na vida da gente.” 

Foi assim que a explanação que eu ia fazendo, complementada e presentificada pela conversa que se formava, encantou a quem nem chegou a conhecer a Escola Viva. Cláudia Ribeiro Ferraz, uma jornalista pesquisadora na área de Educação, enalteceu: “Que riqueza todas essas atividades!”, assim como Maria Dolores Cony Campos, que só veio a participar anos depois, no Centro Cultural, já no Rio de Janeiro: “Que experiência corajosa! Tinha que tomar conhecimento desta história.” – disse ela. Ou o reconhecimento da ex-professora Maria da Graça Canha, para  Gabriela Ribas que, quando professora iniciante, havia sido sua auxiliar de classe e confessara, em seu momento de fala na Live, a admiração da aprendiz pela mestra: “Gabriela, me lembro muito do seu primeiro Pré-CA”, prosseguindo: “Linda!!! Me emocionou muito!!! Como rimos juntas, nós duas”.

Minha narração seguiu, chegando ao ponto em que foi preciso contar como a Escola Viva acabou, tendo sua continuidade no Centro Cultural Viva, que ainda sobreviveu por 2 anos, em Petrópolis, representado pelas atividades do Centro de Estudos de Psicanálise Viva. Nessa ocasião, meus dois filhos mais velhos já moravam no Rio e, por fim, fomos todos. Por conta disso, o Centro Cultural teve suas atividades paralisadas durante alguns anos, até que a Gabriela Ribas, minha filha, que já era professora e universitária do curso de Teatro, resolveu reabri-lo, com a criação do VivaMais – “um projeto de educadores sérios para crianças fora de série”. Foi a própria Gabriela que narrou essa parte da história, o que provocou que um novo grupo de participantes começasse a expressar seus sentimentos em relação ao VivaMais e ao Educação Viva, os dois projetos que fizeram ressurgir, na rua Goethe, em Botafogo, aquela chama que, de fato, nunca se extinguiu. Maria Dolores Coni Campos logo a homenageou: “Salve, Gabriela! Tu és muito arteira. [referindo-se à Companhia Arteira, um dos segmentos do Centro Cultural Viva]. Eu lhe acompanho.”

Seguindo a tradição de estimular a participação dos jovens no trabalho de Educação, o Centro Cultural e o VivaMais mantiveram a mesma postura de abertura e o Carlos Gracie atestou isso, logo rendendo homenagem: “Gabriela!!! Você foi minha primeira coordenadora! Meu primeiro trabalho foi no VivaMais!” Luciana Quinet, também escreveu sobre essa influência: “Gabi, acabo de assistir agora, na madrugada, a Live de vocês.  Linda!!!! Amei. Que história bonita e rica! Não conhecia. Entendi sua construção. Éramos tão novinhas e você já uma professora da prefeitura, depois o VivaMais... Você tão firme, corajosa e responsável... Hoje entendi o processo de construção disso. Quero te agradecer pelo meu primeiro trabalho remunerado. Trabalhava três horas de segunda a sexta e você me pagava um salário mínimo. Valorizada minha pequena colaboração para essa história tão bonita. E foi isso que vi hoje na Live: a valorização verdadeira de cada parceria que passou pela Escola Viva.  Se hoje sou uma professora de Artes Cênicas foi porque passei pelo VivaMais. Dali fui trabalhar com recreação infantil indicada pela Taíssa, fiz a licenciatura e dois concursos para a prefeitura do Rio. Como disse sua mãe tão cheia de emoção ‘a Escola Viva está espalhada’. Vamos seguir adiante espalhando ainda mais!!!! Dê um beijo cheio de afeto e gratidão na sua mãe amada e na linda Camila e um muito carinhoso e saudoso em você (arrematando a mensagem com 10 Emojis: 3 corações, 3 carinhas com beijo e 4 rosas)”. Ciça Ojuara, outra professora do VivaMais, trouxe seu carinho às crianças: “Muitas lembranças. Por onde anda Elisa, meu bebê? E Ana Beatriz, figuraça? Tenho até hoje uma escultura que a mãe do Guiga me deu e muitas fotinhos dele. E sou grata pelo Endi, que fazia capoeira e estudo dirigido.”

Ao final de sua primeira fala, Gabriela Ribas contou sobre, como após alguns anos de trabalho no VivaMais, tomou a decisão de sair do Rio de Janeiro, junto com seu companheiro, Patrick Nogueira (o futuro fundador do Circo Viva), e ir viver no interior do Estado do Rio, pesquisando Cultura Popular e de que forma o  Viva Mais foi preservado graças à corajosa decisão da Camila Prado de assumir a direção do trabalho. Então, chegou a vez da Camila contar como foi o segundo período do VivaMais. Ela evocou os companheiros com quem vivemos uma experiência de gestão compartilhada e as transformações pelas quais o projeto foi passando, tornando-se cada vez mais um espaço onde crianças de diferentes escolas (particulares e públicas), de diferentes idades podiam se desenvolver, em grupo, com liberdade e segurança, experienciando em múltiplas atividades o exercício de convivência fraterna, de respeito e de estímulo. Quatro dos antigos parceiros se manifestaram imediatamente:

Daniel Toledo: Viva a vida viva! (emojis – coração, sol, arco-íris) 

Carlos Gracie: Camila, quantas lembranças boas!!! Saudades.

Luzia de Mendonça: Viva! Gratidão por fazer parte dessa história e levar essas sementes com muita alegria e arte.

Beatriz Napolitani: Muito bom!

Enquanto Camila falava do passado, a emoção das alunas que conquistou,  no passar dos anos, como professora de Filosofia  na Universidade do Cariri, em Juazeiro do Note, transbordava em comentários:

Dodora Pereira da Silva: Camila, minha mestra iluminada...

Marilene Lima: Camila... Minha inesquecível professora!

A elas, se juntaram Ana Cristina Accioly, falando do aprendizado informal, transmitido na convivência fecunda das relações de amizade: “Camila, a pessoa que me fez vivenciar uma relação para mim impensável: Luiz Gonzaga e Nietzche” e Tatiana Devos: “Emocionante tudo isso !!!!! “

Depois, veio a hora de falarmos do projeto Educação Viva, criado em paralelo ao VivaMais, que trouxe a experiência da educação intergeracional. Lembrando que, ali, celebrávamos a entrada de cada estação do ano, interligando-as com as datas populares tradicionais, em grandes festas na rua, reunindo a vizinhança e muitos convidados, Camila contou que Maria Dolores Coni Campos, que participava do Educação Viva, ofereceu às crianças os saberes, as músicas, as histórias relativos às festas juninas e à festa de Cosme e Damião. “FESTAS LINDAS!” comentou o Augusto Pessôa, que foi vice-presidente do Educação Viva, completando: “Eu ainda tenho a quartinha do Fernando! [referindo-se à moringa que era o ícone representativo do encontro sobre culturas populares que acontecia às quartas-feiras]. Além da quartinha do Fernando, eu ainda tenho o Santo Antonio, que eu fiz, com o oratório que o Daniel fez!” E lembrou mais: “Aprendi a fazer o Barangandão com você, Dolores! E o nome da minha empresa é Barangandão!”. Ao que Maria Dolores Coni Campos, acrescentou, já oferecendo a todos a receita: “BARANGANDÃO ARCO ÍRIS, feito com uma folha de jornal, barbante e tiras coloridas de papel crepon.”

Então, o Augusto Pessôa foi trazendo outras histórias: “Festa de Cosme e Damião!” Ao que a Maria da Graça Gonçalves de Canha, reagiu: “Festa do um e do outro” – já existia na Escola.” Mas Augusto prosseguiu nas recordações: “O caruru da Dolores! Fizemos um caruru enorme! Eu ajudei a fazer!” E, nesse ponto, surgiu um diálogo muito engraçado, pelo chat. Dolores disse que fizera vatapá, mas Augusto Pessôa insistia: “Foi caruru, Dolores!” Nesse ponto, eu me confundi com outra ocasião em que, na Escola Viva, a vó Creuza fizera vatapá e afirmei, equivocadamente, que Dolores fizera apenas caruru. Uma injustiça, preciso confessar agora. E minha fala levou Augusto Pessôa a afirmar enfaticamente: “Caruru! Isso, Inez!”. Maria Dolores Coni Campos (ainda tentou insistir, com todo direito, já que estava certa): “Vatapá... eu pensei que eu tinha feito vatapá. Mas adoro caruru. Viva, viva, viva!”. É claro que no dia seguinte, distanciada da emoção, lembrei que na verdade, capitaneados pela Dolores, a baiana do grupo, fizéramos caruru e vatapá, naquela noite, véspera de uma festa de rua memorável. Tratei de telefonar-lhe e de me desculpar pela confusão. Mas o mais importante acontecera: naquela conversa engraçada revivemos a emoção daquela noite, que passamos todos preparando a festa que foi, afinal, um grande sucesso!

O Educação Viva, que teve vida curta, uniu muitas pessoas, em torno de muitas diferentes atividades. Augusto Pessôa desfiou parte da programação: “SAUDADES DAS SEXTAS!”, com o que Vera Antoun concorda: “Muito boas, as sextas culturais!” E Augusto volta pra lembrar os encontros de poesia: “ABRINDO GAVETAS! SAUDADES!”, provocando em Carmen Nora Dias, as evocações gastronômicas: “Saudades das sopas deliciosas da Inez, no Disse-me-Disse- Café-I-Cultura”. Vera Antoun continua lembrando: “Fui lá algumas vezes. Muita contação de histórias.” Norma Nogueira, afirmou: “Parabéns! Adorando! Foi no VIVAMAIS [Centro Cultura Viva] em Botafogo, que fiz meu primeiro Encontro de Sanfoneiros e lá conheci pessoas do meu querido Céu na Terra. Foram festas juninas maravilhosas, na rua”. Então Maria Dolores Coni Campos homenageou o inesquecível Fernando Lébeis, presidente do Educação Viva, que já tinha sido evocado muitas vezes: “Valeu, valeu, pega na kalunga! Valeu, valeu, pega na kalunga! Valeu, valeu, pega na kalunga! Valeu, valeu! VIVA VIVA VIVA! VALEU! - cantava assim, Fernando Lébeis, nos finais das oficinas. Estamos juntos. Adorei participar.”

O grupo de leitura e reflexão do livro Mulheres que correm com os lobos, coordenado por mim, que existe até hoje e foi iniciado no Centro Cultural Viva, na rua Goethe, também se fez representar por muitas lobas. Cecília Pretti Asseff: “Participei do grupo das lobas na rua Goethe e de algumas fogueiras da lua cheia” , Káthia Valéria Pereira Junqueira: “Sim, lobas sob a lua!” e Anne Marie Devos, que, reverentemente chamou a mim e a minhas filhas de lobas, também: “Amei assistir ao vivo as três lobas. Foi muito emocionante participar de algumas estórias da Escola Viva e do Centro Cultural. Adorei conhecer a Gabriela. Beijos carinhosos para as três.”

Por fim, a Gabriela Ribas contou como hoje, cumprindo seu destino itinerante, o Centro Cultural Viva segue com dois ramos de trabalho: a Companhia Arteira e o Circo Viva, ambos com muitos prêmios e atuações que honram a origem que tiveram. E fomos caminhando para o final da Live, imersas e revividas em saudações, ouvindo:

Maria Dolores Coni Campos: “Viva Centro Cultural continua e Viva, viva, viva!”

Anna Margarida Lima e Silva: “Inez querida, emocionada de ouvir toda a história da ESCOLA VIVA, das recordações mais que amorosas de todos nós, que fizemos essa Escola tão especial. Beijo grande. Recordações emocionantes. Muito grata por esse momento de nossa Escola Viva inesquecível! Viva, Viva, Viva. Vida longa pra vocês! Beijo grande, meninas!”

Mirele Furtado, ex-aluna que reside atualmente nos Estados Unidos, disse assim: “Parte da minha vida!! Não pude participar da Live, mas adorei escutar, de vocês, sobre a escola que me educou! Não só com livros, mas como ser. Viva a Vida!! (e nos manda, por emojis, vários corações)”.

E o Jorge Vivacqua, também ex-aluno, se manifestou: “Adorei o encontro!”

Já a Bee Campos, que, muito justamente, havia sido citada mais de uma vez, porque além de mãe de 3 alunos queridos, foi sempre muito participante. Ela esteve conosco desde os primeiros tempos da Escola Viva, colaborou nos inícios do Centro Cultural e veio se juntar ao Educação Viva.  Ao final, confessou: “Foi muito bom reviver as lembranças ...”

Luiz Fernando Hansen Gonçalves: “Um grande prazer revê-las, depois de tanto tempo! Muito obrigado! Beijos.”

Rosa Guerra Peixe Muller: “Parabéns, muito orgulho!”

Tathiana Treuffar (ex-aluna da Escola Viva): “Assisti ontem a Live de vocês e gostei muito!!! Amei saber de tantas coisas que eu não sabia e relembrar outras que vivi. Beijos nas três!”

Daniel Toledo: “Estou aqui, assistindo e me emocionando tudo de novo. (Emoji de coração vermelho).  Acabei de ver o vídeo. Muito emocionante!!!!! Ai que saudade!!!!”

Vera Martins (amiga criada pelas afinidades da luta em defesa da Vida): “Eu agradeço por ter participado de uma história tão linda. Eu vivi como se fosse parte também integrada daquela história. Eu não perdi uma fala; eu participei de tudo. Foi muito emocionante. Parecia para mim que eu também vivi tudo aquilo com vocês. Eu senti orgulho de ter te conhecido já sentia antes passei a sentir muito mais.”

Kira Young, também uma das primeiras alunas da Escola Viva e que depois foi professora de dança no Centro Cultural e preparou as crianças para uma apresentação linda em uma festa do VivaMais, lembrada carinhosamente na Live pela Camila, disse ao final: “Muito emocionante!  Muito emocionada.” E bradando pelo seu time de criança: “Gato a Jatoooo!!!”

Patrícia Vianna (ex-professora e atual parceira na luta pelo respeito aos direitos humanos): “Eu adorei o encontro! Quantas memórias! Aliás, algumas delas eu nem lembrava. Eu me dei conta do quanto as minhas escolhas profissionais e pessoais tiveram a ver com o que vivi e aprendi nessa época. Fico muito grata por ter tido a oportunidade de vivenciar todo esse processo com vocês. (Emojis – 3 corações)”

Maria da Graça Gonçalves de Canha: “Inez, já tinha ouvido você falar de muitas histórias do início da escola. Comecei a te ouvir em 83 e continuei por um bom tempo. Adorei reacender essas lembranças. Obrigada. Beijo.”

Vera Antoun desenhou com Emojis sua mensagem final:  5 pares de mãos aplaudindo  e carinha com olhos de coração.

Cynthia Torno: “Escola Viva, sempre no meu coração. Ninho da Camille [sua filha mais velha e um dos primeiros bebês da Creche-Escola Viva, cuidada por Vera Lucia do Espírito Santo, que também esteve presente na Live].”

Carmen Nora Dias: “Adorei a Live Inez!!! Pena que pelo momento confuso anterior da minha vida, eu não pude participar de todo o tempo em que o Viva esteve na Rua Goethe!!!”

Eliane Flauzino [vizinha lá do Retiro, em Bom Jardim, onde, como Gabriela Ribas contou, foi desenvolvido um projeto rural de Educação com as crianças locais]: “Nossa!!! Assisti a Live e fiquei extremamente emocionada. Que história maravilhosa! Obrigada por deixar as sementinhas desta experiência aqui [no Retiro] também. (E juntou um Emoji de coração).

Augusto Pessôa: “Inez! Que MARAVILHA!” E referindo-se a meu comentário de que não curto Live... “Também não gosto de Live! Mas essa foi SENSACIONAL! SAUDADES E GRATIDÃO!”

Dodora Pereira da Silva (de lá do Cariri): “Lindo demais! As três juntas e a educação, cultura, amor e VIDA!”

Edna Bueno: “Fiquei encantada! Não conhecia a história da Escola Viva, que se tornou Centro Cultural e itinerância e semente fértil. Que vivência maravilhosa! Em muitos momentos, fiquei emocionada. Também tão bonita a tela com você no meio, ladeada pelas duas filhas e parceiras.”

Gisela Marques Pelizzoni: “Gabriela querida! Tô aqui ouvindo a Live da Inês, Camila e sua dos começos do Centro Cultural Viva. Tô aqui chorando até de emoção... Quantas memórias lindas!!! Sempre quis saber dessa história toda. Coisa mais maravilhosa! (e fecha sua fala, nos presenteando com 3 Emojis de corações vermelhos)”

Silvinha Janayna: “Lindeza de experiência!!!! Vivaaaaaaaa!!!!

Vilma Rodrigues – da Escola Barão Vermelho, em Belo Horizonte – “Nossa, amei conhecer sua história e a Escola Viva!  A gratidão é minha. Te conhecer e te apresentar para minha turma [em uma participação online que fiz recentemente, a seu convite, contando mitos para as crianças] foi incrível. Beijos.”

Sandra Senra: “Parabéns, querida Inez, por ter feito história, e por contá-la. Fiquei muito emocionada. E parabéns a Gabriela e Camila, por serem manifestações bem particulares dessa força.”

Cláudia de Brito: “Encontro lindo. Parabéns!”

Marianne Canella: “Ah, que LINDO Inez!!! Que trio de OURO!!!”

Valdinha Barbosa, que também, como loba, fez parte do grupo de leitura: “Live maravilhosa, Inês! Quanta emoção em tão linda caminhada.  Muito obrigada pelo convite.  Beijo grande pra vocês três. Saudades. Muito carinho. (e nos deixou Emojis de mãos postas em gratidão, flores e coração).

Regina Barragat, irmã do Lapu Barragat Maniaudet, escreveu no chat: “Boa noite!! Estou emocionada, com toda essa história. Amei ver essas meninas!! Gratidão, amor e carinho, eu tenho por você!! Beijos!!!”.  Foi Regina que me aproximou internauticamente de uma diretora de escola de Botelhos, com quem venho desenvolvendo afinidades e que também assistiu a Live e comentou:

Isa Vilas Boas: “Emocionante seu relato, Maria Inez do Espírito Santo!!! Me vi nele, não com todo sucesso da Escola VIVA, mas por conseguir realizar meu sonho de ter uma escola diferente para meus filhos e, agora, para as crianças de minha pequena cidade. Foi um prazer conhecer suas filhas. Histórias maravilhosas e inspiradoras. Abraço forte, amiga!!! Realmente alguma descobri nossa conectividade!!! Nesse momento tão delicado e difícil, que estamos passando, essa Live está acendendo nova energia e força para continuar nossa luta. Vamos sair dessa!!! Vamos vencer!!! Vai passar!!!”

Alberto Centurião: “Muito bom conhecer essa história viva.”

Roberto Prado: “Isso é que é vida, suas arteiras!”

Sylvio Costa Filho e Pita Cavalcanti: “Estamos aqui. Grande abraço, Inez, Gabi e Camila!!! Viva a Escola Viva!!!”

Ivana Barradas: “Lindo de conhecer essas histórias! (Emojis de corações) Maravilha! Faz bem ao coração sentir essa vibração e dedicação. Parabéns! Foi emocionante!”

Ione Prado: “Parabéns para as três corajosas batalhadoras pela educação! (Emojis - 3 pares de mãos aplaudindo)”

Laura van Boekel: “Que maravilha!”

Káthia Junqueira: “Querida Inez, que relato lindo, cheio de amor. Foi muito inspirador e comovente. Amei ver você e as 2 mulheres maravilhosas que acompanham essa sua jornada.. (junto com três Emojis de corações em alianças)”

Daniela Santi (falando para Gabriela): “Ontem gostei muito de ouvir a linda história da sua família na educação...  Me fez ver de onde vem toda a sua dedicação à arte e educação artística. Parabéns!”

Flavia Machado Barradas: “Parabéns, Maria Inez. Assisti a Live e adorei a belíssima história. Já estou no canal da Companhia Arteira.” E acrescentando Emojis de carinhas com olhos de coração, nos mandou abraços.

Mônica Paschoal que pode observar de bem perto um pouco dessa história. “Como amo essa família!!! Vocês fazem parte da minha história. (emojis – 3 corações).” Carinho  endossado por seus pais, Elizabeth Thereza e Paulo de Almeida: “O encontro de nossas vidas deixou marcas indeléveis em nossas almas. Nossa eterna GRATIDÃO.”

Mirna Portella: Que história incrível! Que mulheres maravilhosas! Por mais escolas como a Escola Viva, com mulheres incríveis assim! Nossa! Muita coisa pra saber de você. Muita história! Que lindeza.” Juntou um Emoji de carinha com olhos de coração, e continuou: “Inez, você é uma revolucionária. Estou emocionada te ouvindo. É isso. Quando se fala em inclusão, já se está afirmando a exclusão.”

Angela Pecego, sempre generosa, deixou na mesma noite essa mensagem: “A m e i!!!!! Parabéns, minha querida! Vou tentar falar amanhã com você. Hoje você já deve estar exausta e é dia de estar e falar com o povo da Escola Viva, claro!! Suuuper parabéns!! Mil beijos.”

Ana Luiza Berredo: “Comovente, essa linda história de amor!!!

Anne Marie Devos: “Que trabalho maravilhoso! Encantada de ver e ouvir vocês três emocionadas e contando essa história maravilhosa. Três guerreiras!”

Elizabeth Lospenato, que participou ativamente do Centro Cultural no tempo da rua Goethe, enviou-me no dia seguinte esta mensagem: “Boa noite, querida! Ontem fiquei emocionada ouvindo seu depoimento, mesmo não tendo feito parte ou conhecido a Escola Viva. Foi muito emocionante mesmo. O Centro Cultural Viva foi onde Dani teve seu primeiro trabalho também e o encontro com vocês foi determinante na vida dele. Foi a partir daí que ele encontrou a ‘sua turma’.”

Isabel Freire (professora da Universidade de Lisboa): Linda Inez e sua história educativa maravilhosa. Parabéns para si e suas filhas.

Pelo WhatsApp chegou também a expressão de Sônia Dantas Magnani, mãe do Guigui, que foi lembrado tanto por mim, como por alguns ex-alunos, com muito carinho: “Minha Gratidão por sua família é eterna. GUILHERME foi a ponte, alicerce, vigas e uma linda vista deslumbrante para as pessoas Especiais. Amei a Live!  Lindas Gabriela e Camila. Obrigada por este momento. Beijos”.

E outras mensagens seguiram, confirmando o desejo comum por uma Educação Viva:

Maria Antonieta D’Angelo (que foi mãe de aluno, no passado): “Queria muito uma Escola Viva novamente. Seria o melhor presente que poderia dar para minha neta!”

Luciana Vilhena (ex-aluna): “Como faz falta um modelo de escola como a Viva, ainda mais em um momento como esse que estamos vivendo hoje, no Brasil.”

Joanna Ribas: “Nossa! Hoje acordei muito em crise com a educação oferecida hoje pelas escolas! Ouvir esses relatos está sendo muito inspirador!”

Edna Bueno: “Ah, como queria ter frequentado a Escola Viva, ou ter meu filho na Escola Viva! Que luz! Em tempo de desesperança, um alento assistir vocês: um mundo melhor é possível, através do poder da criação. Gratíssima. Muitos beijos! Meu carinho. (e Emojis de coração e trevo e de aplauso, completam o comentário dessa amiga, enviado por mensagem)”

Ana Cláudia Calomeni: “Eu nem estudei na escola, mas tô aqui aos prantos, emocionadíssima!!!”

Daniel Toledo: “A escola em que sempre quis estudar e com que aprendi muito, mesmo depois de fechada!”

Demétrio Barros: “Profunda gratidão por você, Inez, todos os professores e amigos. A Escola Viva ainda vive em cada um de nós. O legado é incomensurável.”

Marly Cruz: “A Escola Viva dentro de cada um que faz parte de sua construção.  Muito obrigada a vocês por trazerem essa história tão Viva, com tanta alegria. Renova a alma!  Parabéns!!!! (Emojis – fogos, balão e champagne). Parabéns pela Escola Viva, que ainda vive e resiste.”

Carla Valle: “As sementes que foram plantadas com cada professor, cada carinho, cada troca na escola e no centro, cada aprendizado, cada festa :-) como elas dão frutos e continuam criando novas plantinhas.” E seguiu, trazendo uma reflexão importante sobre o futuro: Agora mais ainda, como adulta e mãe da Luisa, vejo como esses princípios, valores e experiências, como as que tivemos, são fundamentais na nossa evolução e participação da sociedade em que vivemos. Na escola, em casa, nas relações, no trabalho e no lazer. Essas palavras cheias de significados e por sorte nossa, referência de experiências positivas e mágicas, permeiam as nossas vidas...  Um desenho que se fez na minha cabeça enquanto ouvia vocês lembrando e se emocionando foi o de uma árvore. Essa educação rica e viva é como uma árvore. O tronco é um coletivo dos colaboradores de mãos dadas em círculo (ou roda, como falamos), vocês, os vários outros que participaram da construção e realização. Os galhos são todas as pessoas, nós mesmas e todos os que se beneficiaram dessas experiências. Esses galhos (pessoas) continuam dando continuidade à árvore, com as folhas, novas galhos, frutos e mais: novas sementes. Vejam aí Davi, Lucia [que são filhos da Gabriela Ribas e meus netos], os alunos da Camila, a Ana Cristina, exemplos claros de "galhos" que estão dando origens à novas árvores, seguindo muitos desses valores sobre os quais falaram. Eu me sinto nessa também, um galho que migrou pro outro lado da poça, mas uso desses valores sempre que posso, como amiga, mãe, filha, irmã, prima, sobrinha e profissional. Obrigada às três e à Companhia Arteira por organizar e compartilhar tantas lembranças gostosas e relevantes.”

 

E, ao encerrarmos a Live, Ivana Barradas se despediu, no clima de esperança: “Boa noite, queridas! Quantas sementes de amor e de coragem...”

No dia seguinte, recebi a mensagem do Eduardo Ayres da Motta, um dos primeiros alunos da Escola Viva, que atualmente vive na Suiça: “Obrigado. Obrigado por tudo. Acordei bem cedo e antes de mais nada vi o vídeo inteiro. Fiquei bastante emocionado em ter ouvido todas essas estórias que eu participei. Interessante ouvir de um outro ponto de vista. Diferente do meu de criança e adolescente. Legal também saber o que aconteceu depois, pois realmente não sabia. Mais penso na minha formação, mais vejo o toque do Viva muito forte.”

Leonardo Ávilla afirma: “O legado VIVA segue VIVO em cada um de nós!!!”, enquanto Patrícia Ferreira de Souza Lima diz: “Não parou ainda... Estamos aqui! (emoji – figurinha com coração na cabeça)”, e Adriana Corsini vaticina: “Continuando sempre, com liberdade e alegria!”, ao que Joana Cés de Souza Dantas clama: “Viva!” Ilustrando com o Emoji da flor, nosso símbolo de vida que sempre renasce.

 

Enfim, foi um encontro muito importante, não tenho dúvida e por isso penso que vale a pena compartilhá-lo. Pra quem está lendo este texto e não assistiu à Live, pelo link https://youtu.be/u4YpAHQiSDU é possível acompanhar o processo a que me refiro. Talvez seja possível entender a imensa alegria que todos sentimos, e que eu tento reproduzir ao trazer aqui, as palavras daqueles que, antes ou agora, unindo-se à uma proposta de Vida, dispõem-se a expandir a distribuição dessas sementes, por muitos espaços e tempos.

Deixei de incluir aqui belas palavras de amor e admiração pessoais, que muitas pessoas me enviaram, porque são muito pessoais, mas confesso que elas calaram fundo em minha alma, trazendo-me alento e fortalecendo a confiança na força da amizade. Minha eterna gratidão.