O roubo da alma
Recomendaram-me assistir “Monsieur e madame Adelman”. Fui e
agradeço a indicação. É um excelente filme!
No saguão de entrada do cinema encontrei amigos que supunham
estarem indo ver uma comédia romântica.
Pela sensibilidade de quem me enviou esta sugestão por email, imaginava que não
se tratava bem disso. Acertei, é claro.
O filme remontou-me às leituras de Clarissa Pínkola Estés em
seu “Mulheres que correm com os lobos”, quando ela fala do roubo da pele, roubo
da alma, a partir do mito “Pele de foca”. Ali, no texto de Clarissa, é a mulher
quem perde sua essência. Trabalhei 14 anos com grupos de muitas mulheres e
alguns poucos corajosos homens sobre esse tema e outros afins. Sempre procurei
dar enfoque ao feminino como força potencial, comum aos dois sexos, mais que ao
gênero propriamente dito.
No entanto, atualmente, venho pensando insistentemente, a
partir de uma observação apurada sobre os relacionamentos que assisto e de
muitos que, por tão próximos, chegam a me preocupar e até ferir de certo modo,
em como essa questão tem vindo se propagando e acirrando e de como, muitas
vezes, é a mulher que tem sequestrado o espírito do companheiro.
Quando me refiro à mulher e homem, leiam, por favor a função
que cada um desempenha, na relação, qualquer que seja o tipo de casal.
Em “Monsieur e madame Adelman” acontece justamente essa
mistura de identidades e esse aprisionamento do outro, por ressentimento, insegurança,
obstinação, inveja, tudo muito bem disfarçado no invólucro denominado amor,
casamento, parceria.
Conheço esse roteiro e posso testemunhar, com segurança, que
não acaba bem.
Saí do filme triste, cansada, apressada em regressar à mim.
Aos 69 anos, muitas relações pessoais, dois casamentos,
amores intensos e espectadora/cuidadora de muitos envolvimentos a meu redor,
não consegui me vacinar contra desencanto, manipulação, distorção, controle.
Embora meu faro me permita identifica-los à distância, sinto-me impotente
frente à inebriante atmosfera que o encantamento cria e às distorções que cria.
“Monsieur e madame Adelman” traz o espelho e a possibilidade
de reflexão.
Endosso aqui a recomendação.
Já quero assistir.
ResponderExcluirBeijo grande.
Você chegou a assistir? Me diga o que achou. Grata.
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